O estalo no cérebro me acorda!
Abro os olhos zonzo de dor e procuro o relógio de cabeceira. Quatro da tarde. Mas de que dia?
Nu e cambaleando, levanto e me arrasto até o banheiro, à procura da doce sensação de escovar os dentes e tirar o gosto de cabo de guarda-chuva da boca. A água fria dói no rosto inchado, quando eu o lavo. Não foi um porre. Está mais para uma lavagem cerebral com soda caustica pura. A ressaca só passa daqui quinze dias e olhe lá. A amnésia, sei não...
Será que algum filho de Deus sabe que, NÃO se toca campainha na casa de bêbado desse jeito?
Pego a toalha, me enxugo às pressas, enrolo na cintura e vou caminhando torto até a porta, xingando o infeliz de filho de chocadeira. Nem olho no olho mágico de tão puto e já vou destrancando a fechadura e abrindo a porta, com cara de George Foreman antes do grill.
O que vejo me faz pensar (se é que meu estado permite isso) que voltei a dormir e um sonho mau começou a povoar meu inconsciente: Tem um homem caído na soleira!
Um rápido correr de olhos em torno e constato que não há ninguém no corredor. Lutando contra o torpor da bebida, me abaixo e toco o homem com os dedos e sinto seu corpo frio e rígido.
Vindo das profundezas do Inferno de Dante, tem um cadáver prontinho na porta do meu apartamento.
Fecho os olhos e ainda tento me convencer de que aquilo tudo é produto do meu delirium tremem e imediatamente os abro para constatar a louca realidade. Buscando um resquício de sobriedade me viro e corro para o telefone, disco para o 190, chamando a polícia.
Sentado no sofá, a mente vazia, olho aquele corpo. Esgueirando-se pela bruma da ressaca, a imagem da casadinha do 807 surge malemolente, com olhos de quero mais...
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