Ou melhor, hoje você faz quarenta e quatro anos de liberdade!
Não conheci ninguém nesta vida que tivesse esta ânsia por ser livre,
que corresse com tanta gana atrás dos seus sonhos,
mesmo os mais insanos, os mais improváveis.
É violeiro, muitos disseram que você se foi deste mundo.
Eu duvido, ou melhor, tenho certeza absoluta que ainda está por aqui.
Neste hemisfério ou no outro. Em qualquer meridiano.
Acarinhando tubarão, nú em um convés de catamaram.
Dançando, cantando, sorrindo...
Vivendo cada dia como se fosse o último,
sentindo o vento da liberdade no rosto,
Nada violeiro, singra os sete mares.
Aqui o meu coração se alegra, porque eu sei que você
Meu presente é o presente que você deu a mim.
E que permite ao meu espírito singrar também os mares do meus sonhos.
Violero
Vô cantá no canturí primero
As coisas lá da minha mudernage
Qui mi fizero errante e violêro
Eu falo sério i num é vadiage
I pra você qui agora está mi ôvino
Juro inté pelo Santo Minino
Vige Maria qui áve o qui eu digo
Si fô mintira mi manda um castigo
Apois pro cantadô i violero
Só hai treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhêro
Viola, furria, amô, dinheiro não
Cantadô di trovas i martelo
Di gabinete, ligêra i moirão
Ai cantadô já curri o mundo intêro
Já inté cantei nas portas de um castelo
Dum rei qui si chamava di Juão
Pode acreditá meu companhêro
Dispois di tê cantado u dia intêro
O rei mi disse fica, eu disse não
Si eu tivesse di vivê obrigado
Um dia inantes dêsse dia eu morro
Deus feis os homi e os bicho tudo fôrro
Já vi iscrrito no Livro Sagrado
Qui a vida nessa terra é u'a passage
I cada um leva um fardo pesado
É um insinamento qui derna a mudernage
Eu trago bem dent'do coração guardado
Tive muita dó di num tê nada
Pensano qui êsse mundo é tud'tê
Mais só dispois di pená pelas istrada
Beleza na pobreza é qui vim vê
Vim vê na procissão u Lôvado-seja
I o malassombro das casa abandonada
Côro di cego nas porta da Igreja
I o êrmo da solidão das istrada
Pispiano tudo du cumêço
Eu vô mostrá como faiz a pachoia
Qui inforca u pescoço da viola
Rivira toda moda pelo avêsso
I sem arrepará si é noite ou dia
Vai longe cantá o bem da furria
Sem um tustão na cuia u cantadô
Canta inté morrê o bem do amô.
Cassia
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